Como a polêmica começou
A obra já havia sido censurada na rede de ensino do Rio Grande do Sul. Tudo começou com um vídeo de Janaina Venzon, diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira, na cidade de Santa Cruz do Sul.
“É lamentável um governo federal mandar esse tipo de linguagem para ser trabalhado com adolescentes dentro de uma instituição de ensino”, condena a diretora no vídeo repercutido.
Em consequência, a 6ª CRE (Coordenadoria Regional de Educação) do Estado ordenou que as escolas retirassem o livro das bibliotecas. A medida causou indignação e a editora Companhia das Letras repudiou a censura nas redes sociais.
“A retirada de exemplares de um livro, baseada em uma interpretação distorcida e descontextualizada de trechos isolados, é um ato que viola os princípios fundamentais da educação e da democracia, empobrece o debate cultural e mina a capacidade dos estudantes de desenvolverem pensamento crítico e reflexivo”, defendeu a editora.
A Companhia das Letras ainda enfatizou que “O avesso da pele” foi escolhido pela própria escola para os alunos do ensino médio, com assinatura da diretora.
Além disso, o livro foi aprovado no PNLD (Programa Nacional do Livro e do Material Didático) por uma banca de educadores, especialistas e mestres em literatura e língua portuguesa.
Após os protestos, a Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul informou no domingo (3) que não orientou a retirada dos exemplares das escolas. A 6ª CRE voltou atrás e suspendeu a medida.
Conheça “O avesso da pele”
“O avesso da pele” conta a história de Pedro, filho de um professor de literatura assassinado em uma abordagem policial. O personagem sai em busca de resgatar o passado da família em Porto Alegre, nos anos 80.
Em 2021, a obra levou o Prêmio Jabuti na categoria Romance Literário.
Em entrevista à Carta Capital, o autor Jeferson Tenório avalia que a diretora distorceu o tema: “O livro não é sobre sexo, não é sobre sexualidade e, ainda que fosse, creio que ela perdeu a oportunidade de discutir com os professores e com os próprios alunos questões sensíveis como essa”, ponderou.
A obra “O avesso da pele” foi publicada em 2020 pela Companhia das Letras. “É um livro sobre a paternidade, sobre pais e filhos, a difícil relação entre pais e filhos. Há também uma crítica à precariedade do ensino no Brasil. É um livro que tratará da sala de aula, do dia a dia dos professores, dos alunos. Por fim, também tratará do racismo estrutural e, consequentemente, da violência policial”.
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